Carolina I
penso no quarto de despejo
e lembro de G.H. tentando
arrumar sozinha a bagunça
do quartinho de empregada
encarar a metamorfose
e perceber a pouca diferença
entre a mulher e a barata
quando alcança a lucidez
mas nem é preciso tanto
para encontrar o sagrado
dentro e sofrer não deveria
ser atalho para o saber
entre nós não há horror
a ser acolhido, sonhamos vestir
retalhos do céu sem dúvida
de pertencer a um mundo todo vivo
sob quanta tralha se esconde
a patroa que só se enxerga fera
e imperfeita quando não há mais
ninguém quem limpe sua sujeira
Stephanie Borges / junho 2023