Dois poemas de The Tradition

Traduções de Jericho Brown

Stephanie Borges
4 min readApr 3, 2021

Segunda língua

Você vem com um pequeno
Fio preto atado
Ao redor da língua
Amarrada para lembrar
De onde você veio
E porque deixou
Para trás fotografias
De pessoas cujos
Nomes agora hesita
Em pronunciar. Como
Você diz Deus
Agora que a noite
Chega mais cedo? Por que
Devemos acordar para trabalhar
Antes do alarme tocar?
Sou o homem que pergunta,
O bisneto
Feito assim pelos arrendatários
Mortos a quem prometeram
Um pedaço de floresta para cultivar.
Eles pensavam que podiam
Ter a terra a qual estavam
Ligados. Naquela parte
Do país, um nó
É algo que se consegue
Depois de apanhar
Até cair, e história quer dizer
Mentira. No seu pedaço
Do país, classe
Quer dizer aula, esta sala
Onde praticamos
Palavras que desfazem sua
Língua quando você diz
Uma mentira ou começa uma promessa
Ou desata como uma história.

Charada

Nós não reconhecemos o corpo
De Emmet Till. Nós não sabemos
O nome do garoto nem o som
Da mãe dele aos prantos. Nós nunca
Ouvimos uma mãe chorar.
Nós não conhecemos a história
Desse país em nós. Nós
Não conhecemos nossa história
Neste planeta porque
Não temos que conhecer o que
Acreditamos possuir. Nós acreditamos
Que possuímos nossos corpos mas não temos
Função para nossas lágrimas. Nós destruímos
O corpo que recusa a função. Nós usamos
Mapas que não desenhamos. Nós vemos
Um mar então o atravessamos. Vemos uma lua
Então pousamos lá. Nós amamos a terra
Desde que possamos tomá-la. Xiiiiiu. Nós
Não suportamos esse barulho. O que é
Uma mãe aos prantos? Nós não
Reconhecemos a música até que possamos
Vendê-la. Vendemos o que não pode ser
comprado. Nós compramos o silêncio. Deixe a gente
ajudar você. Quanto custa
segurar sua respiração debaixo d’água?
Espera. Espera. O que nós somos? O quê?
Mas que porra nós somos? O quê?

Second Language

You come with a little
Black string tied
Around your tongue,
Knotted to remind
Where you came from
And why you left
Behind photographs
Of people whose
Names now buck
Pronouncing. How
Do you say God
Now that the night
Rises sooner? Why
Must we wake to work
Before any alarm?
I am the man asking,
The great-grandson
Made so by the dead
Tenant farmers promised
A plot of woods to hew.
They thought they could
Own the dirt they were
Bound to. In that part
Of the country, a knot
Is something you get
After getting knocked
Down, and story means
Lie. In your plot
Of the country, class
Means school, this room
Where we practice
Words that undo your
Tongue when you tell
A lie or start a promise
Or unravel like a story.

Riddle

We do not recognize the body
Of Emmett Till. We do not know
The boy’s name nor the sound
Of his mother wailing. We have
Never heard a mother wailing.
We do not know the history
Of this nation in ourselves. We
Do not know the history of our-
Selves on this planet because
We do not have to know what
We believe we own. We believe
We own your bodies but have no
Use for your tears. We destroy
The body that refuses use. We use
Maps we did not draw. We see
A sea so cross it. We see a moon
So land there. We love land so
Long as we can take it. Shhh. We
Can’t take that sound. What is
A mother wailing? We do not
Recognize music until we can
Sell it. We sell what cannot be
Bought. We buy silence. Let us
Help you. How much does it cost
To hold your breath underwater?
Wait. Wait. What are we? What?
What on Earth are we? What?

Sobre o autor

Jericho Brown recebeu o Prêmio Pulitzer de poesia em 2020 com The Tradition. Recebeu bolsas da Fundação Guggenheim, do Instituto Radcliffe para Estudos avançados de Harvard e do National Endowment for the Arts. Foi o vencedor do Prêmio Whiting. Seu primeiro livro Please (2008), ganhou o American Book Award. Seu segundo livro, The New Testament (2014), ganhou o Anisfield-Wolf Book Award. Sua terceira coletânea de poemas, The Tradition, ganhou o Paterson Poetry Prize e foi finalista do National Book Award e do National Book Critics Circle Award. É professor da Emory University e diretor do Programa de Escrita Criativa.

--

--

Stephanie Borges

Poeta e tradutora . Autora de 'Talvez precisemos de um nome para isso'. Escrevo sobre livros na newsletter: tinyletter.com/stephieborges