risco
o perigo não é o amor,
mas sou eu acreditar
no problema de que amar
alguém seria abrir mão
do que me faz fera
criatura faminta pela novidade
da vida e das tantas coisas
que não sei, inclusive amar
essa reinvenção a cada sorriso
e silêncio, a sucessão dos gestos
a criar um refúgio e uma aventura
o risco não está na entrega,
mas no abandono da pele
dos chifres do búfalo capaz
da metamorfose em borboleta
desistir da leveza que dança
e venta longe qualquer presságio
da morte que finda sem recomeço
o perigo nunca é o amor, é se perder
noutra voz que atraia quem
não suporta o banho de chuva,
água nova a encharcar o ciclo
que encontrará dias de secura
mas espera e se renova
o problema está em tentar
ser uma só, que se comporta
seja solta e deixe solto,
ela sussurra em sua brisa,
o amor sabe muito mais do que eu
e numa dança transforma
em flor uma antiga ferida
o perigo é esquecer e querer
se encaixar nas antigas histórias
das chaves manchadas de sangue
pés cortados, línguas decepadas,
mantas de urtiga e um século de sono
só bom se doer, cantou um poeta
que acreditava em finais felizes
mas quem aprende a dançar entende
a sensação é outra, ao se aproximar
do que parece amor é preciso
abandonar a dignidade do sofrer
a chama que transforma exige
esteja pronta pra arder
Stephanie Borges / junho 2024